sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Mazelas

O Padre Antônio Vieira escreveu o “Sermão de Santo Antônio aos peixes” observando neles (os peixes) duas qualidades: a de ouvir e não falar. E a seguir, diz Mestre Vieira: “Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-lo para que não se corrompa. Aluísio Azevedo, em sua época, vivenciava através dos personagens do seu romance “O Cortiço” a hipocrisia das classes, tanto na política como nas classes mais abastadas, rotulando-a de câncer social de todos os tempos. Já naquela época, como hoje, a proposta era de uma sociedade mais humana e justa, mas ao contrário da proposta, colocavam nos cargos pessoas cujo perfil estava longe de atender ao anseio da sociedade: homens de caráter duvidoso e nenhuma credibilidade.

Os fatos atravessam o tempo. Um bom exemplo é o julgamento da Suprema Corte Brasileira que assistimos pela TV. Ali compreendemos que qualquer pessoa investida num cargo público, privado ou mesmo religioso, que presenciar ou tomar conhecimento de ato ilícito cometido por seus subordinados, seja de ordem moral , ética ou material, infringir com seu silêncio as leis. Ela será considerada culpada na mesma ação penal praticada contra os réus que cometeram o delito. .

A teoria do domínio dos fatos, aplicada na condenação por corrupção ativa do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, depois do julgamento dos delitos de cada réu na Suprema Corte Brasileira, comprovou o que já era de “domínio público”, pelo menos para aqueles que a cada eleição fazem na rua a distribuição da propaganda eleitoral, sujando as ruas com toneladas de “santinhos” e recebendo por este serviço sem assinar recibo, ficando provado como tomamos por comum a erosão moral que tanto mal faz à sociedade brasileira. Vieira em seus sermões e Aluísio em sua ficção já apontavam tais sinais, e hoje ainda vemos afrontas às leis em vigor, como no caso dos “cabos eleitorais” citados, e também o roubo aos cofres públicos como no caso do julgamento do mensalão. Para corroborar o destemor às leis, era noticiada juntamente com o julgamento dessa corrupção a interceptação de um avião com um milhão e duzentos mil reais em dinheiro para financiar uma campanha eleitoral no estado do Pará. Prova cabal que o julgamento não intimidou os políticos daquele estado.


Impressionou-me, a ação corajosa do relator, a calma, pela fiel defesa dos fatos no decorrer de sua longa explanação. Só nos resta juntar forças com o Ministro Joaquim Barbosa no combate a este câncer (a corrupção) e aos ministros que tiveram coragem de confirmar seu voto. Que Deus dê vida longa a este homem, com sabedoria vinda do alto.



Rio 12 de outubro de 2012