sábado, 29 de abril de 2017

Os touros e os toureiros

Na Espanha, Américas, Peru, Colômbia e México são permitidas as famosas touradas. Tudo ocorre em nome da tradição. Por curiosidade, resolvi assistir pela internet uma destas famosas touradas. Foi fácil verificar que os touros  usam sua imensa força até a  total exaustão, enquanto os toureiros, com longa capa  de duas cores, tentam  distrair o animal, desviando-lhe a atenção.

Elegantemente vestido, o  toureiro com suas brilhante vestes,   inicia a luta com esta desigualdade; com sua afiada espada em uma  das mãos. Para confundir o touro, usa sua capa, e aos poucos vai minando a força  do  poderoso “oponente”. Ao fim , já sem forças, o irracional touro dobra as patas dianteiras. Neste momento o toureiro recebe o auxílio de um de seus  ajudantes, determinando o fim do “combate” com a morte do touro.

O quadro acima nos mostra uma luta cujo objetivo  é enganar o touro vencendo-o pelo cansaço provocando sua morte pela desigualdade de forças e estratégias (habilidade impossível ao touro). Nos mostra também uma torcida dos considerados  seres racionais pela distração da parte mais fraca, com os efeitos provocados das bandeiras sobre a visão dos touros.

Em seguida começam os mimos ao vencedor, a torcida vibra com a morte do touro, jogam flores “para o grande vencedor da luta” o carregam nos ombros e saem em procissão, dando a volta no grande anel do estádio! Uso palavras de Machado: "O muito mimo empece a planta". Podemos aplicar tais palavras também ao público que assiste as touradas, impedindo uma visão real dos fatos ocorridos.

Os versos do compositor e cantor, Zé Ramalho, na canção "Admirável gado novo", traduz esta luta desigual e despercebida pelo povo.

Vocês que fazem parte desta massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda esta engrenagem                               
Já sentem a ferrugem lhe comer
OÔ, vida de gado!
Povo marcado
‘’ÊH povo feliz!’’

Adaptando o quadro acima às escolhas brasileiras nas questões políticas, iremos verificar o óbvio: os touros, representando o povo, não têm a opção da escolha, e sim o disfarce do discurso recheado de  promessas, só restando aos touros, “o povo”, o movimento da capa enganadora para desviar do que mais importante havia na disputa (a vitoria sobre o mal que leva à morte). Portanto lhes resta apenas morte no bem estar social, como na saúde,  educação, moradia, e até falta de água, tudo que  faz uma nação forte e próspera, enquanto para seus algozes, os louros da irracional vitória, com grande euforia.

E em todas as lutas que se seguiram, observei o mesmo resultado: a morte dos infelizes touros, que foram para a arena.

Extraí das touradas algumas lições: Não ficar olhando o movimento nem a cor das bandeiras, nem  o movimento da capa de quem está empunhando-a, mas suas reais intenções. Em segundo lugar, me fortalecer com conhecimento. Procurar conhecer, pois sem conhecimento sou fraco como os touros da arena, só a força não é suficiente. E em terceiro, não torcer para quem promove a morte pela fraqueza e falta de saber o que está se passando. Não se distraia, procure saber! Não fique na torcida dos que se corromperam e lhe roubaram o pão de cada dia tornando-o cada vez mais fraco, até a servidão e a morte.
           
Rio 24 de fevereiro de 2017
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