sábado, 6 de dezembro de 2014

Epitáfio



Eras formosa... As linhas das tuas curvas, nos verdes relevos, faziam  belos contornos.  

Contrastando com o azul do céu e o verde das águas do mar, do amanhecer ao pôr do sol. Tudo que a vista alcançava, sobressaíam os morros maiores, e o bondinho parecia um pingente pendurado em um colar, a ornamentar um busto jovem de uma bela mulher. Sublime beleza, sem par: como eras maravilhosa! Encantava o olhar ao lado o Cristo: - Os braços abertos, abençoando tanta natureza viva, que faz pulsar mais forte o coração dos que deslumbram esse quadro, os visitantes de todas as partes do nosso planeta.


E ainda de braços abertos está, agora não sei... Se abençoando ou decepcionado, pedindo compaixão aos causadores de sua morte, pois num dos morros os garis limpavam a sujeira deixada pelos turistas nas encostas. Os rios  mal-cheirosos, que recebem os  esgotos que depois são lançados nas praias (detritos), e que provocam imensas línguas negras, levando à morte a fauna e a flora. Os manguezais se transformaram em lixões, e nas ruas próximas, os postes estão ornamentados pelas aves de rapina em busca de seu alimento em decomposição.

Nossas casas, deveriam ser lugares seguros, são invadidas por bandidos nos ameaçando, levando tudo que foi adquirido com tanto sacrifício. As ruas sujas por propagandas de todo tipo, os bueiros a exalar o odor horrível do material orgánicos lançado pelos nascidos no teu berço, que num gesto desapercebido, levam apenas as mãos às narinas. Tudo isso sem providência alguma daqueles que deveriam zelar por ti. 

Vivo na esperança de um dia contemplar a tua ressurreição, tu que fostes tão bela, chamada de maravilhosa pelo mundo afora, tuas praias fascinavam. Nada ofuscava tamanha beleza. Desejo voltar a contemplar o anoitecer sem a luz artificial do mundo, mas sob a luz da lua, a iluminar aquelas areias outrora brancas de suas praias, que deixavam visíveis todo movimento dos Tatuís trazidos pela onda, que quebrava a escuma, como bordado de branca renda. “Oh, Cidade do Rio de Janeiro!”.