A manhã estava ensolarada, própria para uma boa pescaria,
mas era uma sexta feira. O vovô, homem valente, militar aposentado da Marinha,
adorava uma pescaria, mas não uma pescaria qualquer, tinha que ser com traje de
mergulho e aquela faca afiada amarrada na perna direita.
Resolveu convidar os dois netos para pescar na ilha de
Paquetá, no sábado. Combinaram alugar um pedalinho quando chegassem na ilha, os
meninos seriam responsáveis pela força
motriz do “veículo”. O maior, 13 anos, comandaria o funcionamento e a direção
sob as ordens do capitão, o avô. O menor, 11 anos, a visibilidade e a direção
do vento. Depois de meia hora de aula, a tripulação estava preparada.
No sábado pela
manhã, com tudo combinado, chegavam na ilha de Paquetá dispostos a encher o
samburá de peixe. Feitos os preparativos, os meninos começaram a pedalar para escolher um lugar
apropriado próximo à orla enquanto o vovô se aprontava. Depois de todo
equipado, o vovô determinou a parada a cem metros da orla. O pedalinho tinha a
forma de pato d’água, ou forma de ganso, não sei bem, e os netos se divertiam.
Já fora da praia, a duzentos metros, de repente algo bateu
no pedalinho com muita força quase desestabilizando a embarcação. O vovô olhou
em volta do pedalinho e avistou uma enorme mancha negra, era um tubarão!! O velho fuzileiro estufou o peito,
olhou para os netos e bradou: fiquem calmos e continuem a pedalar em direção à
praia. Dada a ordem, colocou o arpão em posição, colocando o pé na borda da
pequena embarcação, esperando o retorno do perigoso animal, quando o vulto
aproximou-se. Antes do choque, o velho marinheiro disparou sua arma acertando a
cabeça do enorme peixe atravessando-lhe o crânio, um tiro que pretendia ser
mortal. Mas não, mesmo ferido mortalmente, o animal afastou-se um pouco, e antes
que acabasse o cabo do arpão o vovô deu a segunda ordem: - amarrem o cabo do
arpão no pescoço ou cauda do pedalinho, para prender o bicho na embarcação! Pedalem em direção à praia!.
Na praia, os
banhistas vendo a situação de perigo da tripulação do pedalinho, chamaram os salva-vidas.
O pessoal do socorro que tripulava as
motos de jet-ski, enquanto o bravo vovô
colocava o pé na borda do pedalinho e tirava sua afiada faca da bainha na perna
direita, esperando o animal chegar: já sem forças, o tubarão deu uma cabeçada
no pedalinho, e o velho marinheiro escorregou, caindo em cima do tubarão.
Depois de algumas furadas no bicho não conseguiu retirar
mais a faca que ficou presa a si, mas o velho não largou a faca, a mão esquerda
apoiva-se segurando o arpão que atreavessara a cabeça do grande peixe, pois
estava montado, meio curvado, sobre o grande animal e já cansado, prestes a
desmaiar, enquanto os meninos pedalavam também já muito cansados, quando chegou
o socorro, o pessoal do jet-ski.
Chegaram à praia
rebocando o pedalinho preso no peixe e o vovô deitado segurando a faca e o
arpão. Já na areia, lotada de curiosos, o vovõ meio tonto e cansado, os netos
preocupados, mas os médicos dizendo que o velho só estava cansado pelo esforço,
tudo ficou bem, menos para o tubarão (é claro) que já esta pendurado pelo rabo
numa amendoeira à beira mar, com os meninos lado a lado sendo fotografados
pelos banhistas e alguns repórteres, recebendo parabéns pela proeza de ter
salvo o vovô das garras do temido tubarão.
Com a chegada dos veterinários que, depois de
examinar a arcada dentária do animal, constatou-se que se tratava de um animal
bastante velho, pois não tinha quase dentes, e estava quase cego. No dia
seguinte aparecia nas primeiras paginas dos jornais as fotos do tubarão
pendurado na amendoeira, ladeado pelos dois garotos heróis, que salvaram o avô
das garras do feroz tubarão desdentado. E ao lado uma foto menor com o avô deitado
em cima do velho tubarão segurando a pequena faca espetada no dorso do peixe
apoiando-se com a mão esquerda no arpão que atravessara a cabeça do grande animal marinho.
Esse conto é uma ficção
Rio de janeiro 23/8/2015